O Passado é um Objeto Transicional: Entre o Peso e o Acolhimento.
- Renata Santana

- 12 de ago.
- 1 min de leitura

A psicanálise nos ensina que o passado nunca está apenas atrás: ele se insiste no presente, como um convidado que não pedimos, mas que traz consigo perguntas não respondidas. Se ele o atrapalha, não é por existir, mas por resistir à elaboração.
Freud diria que lidamos com o passado através do trabalho de luto – não só pela morte de alguém, mas pelas mortes simbólicas: daquilo que fomos, do que acreditávamos ser, das feridas que cicatrizaram torto. Lacan lembraria que o real do passado é inominável; só o trazemos à luz através dos fios da fala.
Winnicott, porém, nos oferece uma imagem mais terna: o passado é como um objeto transicional – aquele cobertor ou urso de pelúcia que uma criança abraça para suportar a ausência da mãe. Não se trata de esquecê-lo ou destruí-lo, mas de descobrir como, aos poucos, podemos deixá-lo repousar no colo da memória, sem que ele nos impeça de viver o agora.
A análise não apaga o passado, mas o transforma em narrativa e, assim, tira seu poder de assombro. Talvez a questão não seja ‘como lidar’, mas ‘como acolher’ o que foi, sem que ele precise mais gritar para ser ouvido.
Se o passado fosse um objeto esquecido no bolso do seu casaco – pesado como pedra ou macio como algodão, que gesto você faria com ele hoje?



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