A infância não acaba aos 12 anos.
- Renata Santana

- 25 de ago.
- 2 min de leitura

Você já se pegou reagindo como uma criança diante de uma crítica, de um elogio ou de uma ausência? Talvez a infância esteja mais presente do que você imagina.
Na psicanálise, a infância não é apenas uma fase cronológica — ela é uma estrutura psíquica que permanece viva. Os traços infantis não desaparecem com o tempo; eles se transformam, se disfarçam, se repetem. O adulto que somos hoje carrega, muitas vezes sem perceber, o menino ou a menina que fomos. E essa criança continua a falar, mesmo quando não escutamos.
O adulto que repete
Muitos dos nossos padrões de comportamento são ecos da infância. A busca por aprovação, o medo de rejeição, a dificuldade em lidar com limites — tudo isso pode ser expressão de cenas infantis que se repetem no teatro da vida adulta. Freud chamou isso de compulsão à repetição: o sujeito revive, inconscientemente, situações que marcaram sua história, tentando dar a elas um desfecho diferente.
Mas o desfecho não vem pela repetição — vem pela escuta.
Sintomas como linguagem
Ansiedade, compulsões, dores recorrentes, bloqueios emocionais — os sintomas são, muitas vezes, a forma que a criança interior encontra para se manifestar. Eles não são inimigos a serem combatidos, mas mensagens a serem decifradas. O corpo fala, o afeto grita, e o inconsciente escreve em silêncio.
A escuta analítica como reencontro
Na análise, o sujeito é convidado a escutar essa criança. Não para “curá-la” ou silenciá-la, mas para reconhecê-la. A escuta analítica é um espaço onde o adulto pode finalmente dar voz ao que foi calado, nome ao que foi sentido, e sentido ao que foi vivido.
A infância não acaba aos 12 anos. Ela se esconde nos cantos da alma, nos gestos automáticos, nas escolhas repetidas, nos afetos que insistem. E quando escutada, pode deixar de gritar.
“A criança que fomos não desaparece — ela espera, pacientemente, que alguém a escute sem julgamento.”



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